ANTERO DE ALDA Photography Recent Works

 

Man, the soul, body and nourishment [ 2 ]

 

 

photo by DOROTHEA LANGE, Migrant Mother, 1936.

 

 

 

 

 

Reflections on post-modernism: the great depressions occur nearly every day at the time of the newscast. Where has globalization and Lyotard ‘s “ungoverned society” led us?

 

 
 

2. A postmodern moral?

 

 

«A person with a belief is as powerful as 100 000 people who have no more than interests.»

JOHN STUART MILL

by Anders Breivik Behring, Twitter, July 17th, 2011.

 

 

Today, July the 22nd [2011], the world was startled with a terrorist attack in Norway, which caused 76 deaths and dug out the memory of 9/11 in America. The main suspect, Anders B. Breivik, is a 32 years old young man, regarded as an anti-Nazi nationalist, conservative and Christian, with assumed admiration of Winston Churchill. This episode takes us to the dilemma of the extreme Hobbesian geodesy, and the quotation of Stuart Mill seems to prove that there is a possibility of brutal threat to the moral (if you can still call it that), oppressive of the postmodern.

 

Dominique Strauss-Kahn was arrested on May the 14th, 2011, charged with raping a hotel maid in New York. The then leader of the International Monetary Fund, which aspired to succeed to President Sarkozy in France, was eventually released one month later, after his lawyers have discredited the theories of the prosecution. Later, newspapers reported that Strauss-Kahn denied the possibility of having raped the girl of the Sofitel, in Manhattan, «because he had sex around the clock with three other women, in the hours before his arrest.» (Expresso portuguese newspaper, July 18th 2011).

 

Following these allegations to the former chief of the IMF, the French newspaper L'Express reported that he would have had a «relation consentie mais clairement brutale» (consented, but clearly brutal intercourse) with Anne Mansouret in 2000, at the offices of the headquarters of the Organization for Economic Cooperation and Development (OECD), in Paris. The then advisor to Strauss-Kahn described him as «un prédateur qui cherche non pas à plaire mais à prendre, se comportant avec l'obscénité d'un soudard» (a predator that seeks not to please, but to take, acting with the obscenity of a soldier) (L'Express online, July 18th, 2011).

 

If these behaviours are typical of today's leaders of the institutions that dominate social morality, is it so strange that the IMF — and the European Union and the World Bank — impose exorbitant interest rates to the poor indebted countries of the Euro zone? And how should we interpret the recent wiretapping scandal of the billionaire Rupert Murdoch’s tabloid “News of the World”?

 

 

The contemporary movement tells us that we have passed from the oppression of morality to a moral of oppression. Contrary to what the postmodernists think, the free society is not one that is detached from religion, but one that can integrate all religions. The secular Touraine admits that «Europe would truly exist in the world if it could prove that it is able to build a relationship between a part of the West and a part of the Muslim world, while Americans closed themselves in a shameful war» (Euronews, 2010). But what do we speak of but war, if the West doesn’t understand the East and vice versa? For some modernity theorists (such as Steiner, for instance), man does not find his way, does not exceed its history, not because his soul is inhabited by an inaccessible God — as Descartes supposed — but because it is dominated by Dionysian splendour: always the lust, wealth, consumerism, sexuality («pornography», according to Touraine) without consequence.

 

Man’s morality (God) of the postmodernism, it seems, is money. If the industrial revolution emerged as a technical opportunity generator of abundance and happiness, the interest in money ended up undermining that wealth and happiness. What came after (the "hyper-modernity" — according to Lipovetsky and Sebastien Charles — or the exacerbation of modernity, consumerism, individualism, hedonistic ethics...) was a closed movement, which generates both wealth and poverty at the same time, happiness and pain. To this disorder we call “generalization” — or the individual deprived of his narrative — to which a global society governed primarily by the matter corresponds.

 

Can man survive without a soul? For the post-modern, the man with a soul is a useless man, but how to separate the soul from the body which must be nourished?

 

 


English version 

 

Antero de Alda: Câmara Antiga (o Homem, a alma, o corpo e o alimento II)

 

 

contacto

poesia

fotografia

home

 

  Post 052 -  Julho de 2011  

 

foto: Carlos Vilela 2010

 

www.anterodealda.com

 

 

pesquisar neste blog

 

Recentes

 

o editor pergunta-me...

          [ a reserva de Mallarmé ]

 

 

Antigas

 

o ministro foi às putas de pequim

manual de sobrevivência [ XXV ]

o comboio de... Cristina Peri Rossi

o tesoureiro de Leipzig

manual de sobrevivência [ XXIV ]

manual de sobrevivência [ XXIII ]

manual de sobrevivência [ XXII ]

e o lado oculto da Europa...

a Espanha oculta de...

          [ Cristina García Rodero ]

o cortejo dos amortalhados

EU — only for rich

a essência do Capitalismo

a essência de um Capitalista

os filhos do Diabo

manual de sobrevivência [ XXI ]

ódio à Democracia [ III ]

ódio à Democracia [ II ]

ódio à Democracia [ I ]

Warhol [ 85 anos ]

manual de sobrevivência [ XX ]

manual de sobrevivência [ XIX ]

manual de sobrevivência [ XVIII ]

taitianas de Gauguin

retratos de Van Gogh

nunca serei escravo de nenhum terror

as coisas [ Jorge Luis Borges ]

manual de sobrevivência [ XVII ]

manual de sobrevivência [ XVI ]

Portugal, noite e nevoeiro

o corno de Deus

manual de sobrevivência [ XV ]

manual de sobrevivência [ XIV ]

manual de sobrevivência [ XIII ]

a filha de Galileu

um museu para o Eduardo

manual de sobrevivência [ XII ]

manual de sobrevivência [ XI ]

Torricelli, Pascal, Hobbes, razão, utopia e claustrofobia

manual de sobrevivência [ X ]

manual de sobrevivência [ IX ]

os diabos no quintal

     [ histórias de homens divididos

       entre muitos mundos ]

o pobre capitalismo...

as Madalenas de Caravaggio

manual de sobrevivência [ VIII ]

o alegre desespero [ António Gedeão ]

manual de sobrevivência [ VII ]

manual de sobrevivência [ VI ]

manual de sobrevivência [ V ]

manual de sobrevivência [ IV ]

manual de sobrevivência [ III ]

sombras [ José Gomes Ferreira ]

Phoolan Devi [ a valquíria dos pobres ]

schadenfreude [ capitalismo e inveja ]

a vida não é para cobardes

europa

a III Grande Guerra

FUCK YOU!

EU — die 27 kühe [ as 27 vacas ]

europa tu és uma puta!

bastardos!

o daguerreótipo de Deus...

o honrado cigano Melquíades...

cem anos de solidão...

manual de sobrevivência [ II ]

o salvador da América [ Allen Ginsberg ]

o salvador da América [ Walt Whitman ]

[ revolução V ] as mães do Alcorão

[ revolução IV ] paraíso e brutalidade

[ revolução III ] andar para trás...

[ revolução II ] para onde nos levam...

[ revolução I ] aonde nos prendem...

o problema da habitação

cartas de amor

a herança de Ritsos

as piores mentiras

elegia anti-capitalista

da janela de Vermeer

manual de sobrevivência [ I ]

de novo o Blitz...

antes de morrer

as valquírias

forretas e usurários

           [ lições da tragédia grega ]

Balthus, o cavaleiro polaco

abençoados os que matam...

diário kafkiano

Bertrand Russell: amor e destroços

U.E. — game over

DSK: uma pila esganiçada

coração

kadafi

o tempo e a eternidade

Bucareste, 1989: um Natal comunista

mistério

o Homem, a alma, o corpo e o alimento

          [ 1. a crise da narrativa ]

          [ 2. uma moral pós-moderna? ]

          [ 3. a hipótese Estado ]

o universo (im)perfeito

mural pós-moderno

Lisboa — saudade e claustrofobia

          [ José Rodrigues Miguéis ]

um cancro na América

Marx, (...) capital, putas e contradições

ás de espadas

pedras assassinas

Portugal — luxúria e genética

rosas vermelhas

Mozart: a morte improvável

1945: garrafas

1945: cogumelos

bombas de açúcar

pão negro

Saramago: a morte conveniente

os monstros e os vícios

porcos e cinocéfalos

o artifício da usura

a reserva de Mallarmé

o labirinto

os filhos do 'superesperma'

a vida é uma dança...

a puta que os pariu a todos...

walk, walk, walk [Walter Astrada]

Barthes, fotografia e catástrofe

Lua cheia americana [Ami Vitale]

a pomba de Cedovim

o pobre Modigliani

o voo dos pimparos

o significante mata?

a Europa no divã

a filha de Freud

as cores do mal

as feridas de Frida

perigosa convivência

—querida Marina! («I'm just a patsy!»)

a grande viagem...

histoire d'une belle humanité

o coelhinho foragido

o sono dos homens...

«propriedade do governo»

os dois meninos de O'Donnell

o barco dos sonhos

farinha da Lua

o enigma de Deus

«nong qua... nong qua...»

«vinho de arroz...»

magnífica guerra!

a lei do Oeste...

Popper (1902-1994)

 

 

 

SnapShots

 

 

os dias todos iguais, esses assassinos...

 

 

 

 

o Homem, a alma, o corpo

e o alimento [ 2 ]

 

 

 

 

foto DOROTHEA LANGE, Migrant Mother

Florence Owens Thompson, 32 anos, 7 filhos, viúva (Março de 1936).

 

Reflexões sobre o pós-moderno: as grandes depressões ocorrem hoje quase todos os dias à hora dos noticiários. Ao que nos levaram a globalização e a «sociedade não administrada» de Lyotard?

 

 

 

2. Uma moral pós-moderna?

 

«Uma pessoa com uma crença tem tanta força como 100 mil pessoas que não têm mais do que interesses.»

JOHN STUART MILL

Por Anders Behring Breivik, Twitter, 17 de Julho de 2011. 

 

Hoje, 22 de Julho [2011], o mundo sobressaltou-se com um ataque terrorista na Noruega, que provocou 76 mortos e fez desenterrar a memória do 11 de Setembro na América. O principal suspeito, Anders B. Breivik, é um jovem de 32 anos, tido como um nacionalista anti-nazi, conservador e cristão, com assumida admiração pela emblemática figura de Winston Churchill. O episódio leva-nos ao dilema do extremo geodésico hobbesiano, e a citação de Stuart Mill parece provar que existe uma possibilidade de ameaça brutal à moral (se lhe podemos chamar assim) opressora de tudo o que é pós-moderno.

 

 

Dominique Strauss-Kahn foi preso a 14 de Maio de 2011, acusado de violação de uma empregada de hotel em Nova Iorque. O então líder do Fundo Monetário Internacional, que aspirava suceder a Sarkozy na presidência da França, acabou por ser libertado um mês depois, após os seus advogados terem desacreditado as teses da acusação. Mais tarde, os jornais noticiaram que Strauss-Kahn negou a possibilidade de ter violado a empregada do Sofitel, em Manhattan, «porque teria praticado sexo ininterruptamente com três outras mulheres nas horas que antecederam a sua detenção.» (Expresso, 18 de Julho de 2011).

 

Na sequência destas acusações ao ex-director do FMI, o jornal francês L'Express noticiou que o mesmo terá tido «une relation consentie mais clairement brutale» com Anne Mansouret, em 2000, nos escritórios da sede da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), em Paris. A então assessora de Strauss-Kahn definiu-o como «un prédateur qui cherche non pas à plaire mais à prendre, se comportant avec l'obscénité d'un soudard.» (L'Express online, 18 de Julho de 2011).

 

Se estes comportamentos são hoje típicos de dirigentes das instituições que dominam a moral social, como estranhar se o FMI — e a União Europeia e o Banco Mundial — impõem juros exorbitantes aos países endividados da zona pobre do Euro? E como interpretar, ainda, o recente escândalo das escutas ilegais do News of the World do multimilionário Rupert Murdoch?

 

 

 

O movimento da contemporaneidade diz-nos que passámos da opressão da moral para a moral da opressão. Contra o que pensam os pós-modernistas, a sociedade livre não é aquela que se desprende da religião, mas aquela que pode integrar todas as religiões. O laico Touraine admite que «a Europa existiria verdadeiramente a nível mundial se pudesse provar que é capaz de construir uma relação entre uma parte do Ocidente e uma parte do mundo muçulmano, enquanto os americanos se fecharam numa guerra vergonhosa.» (Euronews, 2010). Mas de que falamos nós senão de guerra se o Ocidente não compreende o Oriente e o contrário? Para alguns teóricos da modernidade (como Steiner, por exemplo), o homem não encontra o seu caminho, não ultrapassa a sua história, não porque a sua alma seja habitada por um Deus inacessível — como supunha Descartes —, mas porque ela é dominada pelo fausto dionisíaco: sempre desejo, riqueza, consumismo, sexualidade («pornografia», ainda segundo Touraine) sem consequência.

 

Afinal, a moral (o Deus) do homem pós-moderno é o dinheiro. Se a revolução industrial apareceu como uma oportunidade técnica geradora de abundância e felicidade, o interesse pelo dinheiro acabou por minar essa abundância e essa felicidade. O que lhe sucedeu (a "hipermodernidade" — segundo Lipovetsky e Sébastien Charles — ou a exacerbação da modernidade: o consumismo, o individualismo, a ética hedonista...) foi um movimento fechado, gerador de abundância e ao mesmo tempo de miséria, de felicidade e ao mesmo tempo de dor. A esta desordem chamamos "massificação" — ou o indivíduo destituído da sua narrativa —, a que corresponde uma sociedade globalizada regida fundamentalmente pela matéria.

 

Poderá o homem sobreviver sem alma? Para os pós-modernos o homem com alma é um homem inútil, mas como separar a alma do corpo que é preciso alimentar?

 

3. ainda narrativa: a hipótese Estado

 

 

 

 

anterior  |  início  |  seguinte

 

 

A alma tem muitos inquilinos

que estão frequentemente em casa todos ao mesmo tempo.

GÖRAN PALM

 

webdesign antero de alda, desde 2007